CIRURGIA BARIÁTRICA

CIRURGIA BARIÁTRICA

A Organização Mundial de Saúde afirma: a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde que temos para enfrentar. No Brasil, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. A frequência de obesidade é semelhante em homens e mulheres. Já em relação à obesidade infantil, o Ministério da Saúde aponta que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos.

Causas

Obesidade é considerada uma doença crônica, e de tratamento multidisciplinar, já que geralmente possui múltiplas causas. Os hábitos de vida contemporânea favorecem o consumo exagerado de alimentos de alto valor calórico, mas com pobre qualidade nutricional. Essa ingestão excessiva também pode ser desencadeada por transtornos de compulsão alimentar. O sedentarismo é outra causa indutora da obesidade. O gasto energético vem diminuindo com os confortos da vida moderna, como controles remotos de TV, elevadores, automóveis, escadas rolantes etc. Alterações nas funções das glândulas tireóide, suprarrenais e da região do hipotálamo também podem provocar a obesidade. Além disso, pesquisas mostram uma importante relação entre herança genética e obesidade. Normalmente, pais com peso normal têm em média 10% dos filhos obesos. Quando um dos pais é obeso, 50% dos filhos certamente o serão. E, quando ambos os pais são obesos, esse número pode subir para 80%.

Tratamento

A cirurgia bariátrica é uma das ferramentas utilizadas no tratamento da obesidade e dos problemas de saúde associados (ou agravados) por ela, mas a primeira opção é sempre o tratamento clínico (idealmente multidisciplinar). Normalmente após uma avaliação de um médico endocrinologista, excluídas as causas clinicas, o mesmo deverá propor ao paciente uma mudança na escolha alimentar, priorizando alguns tipos de alimentos em relação a  outros, reorganizar os horários das refeições, iniciar ou aumentar a prática de atividade física, podendo em casos especiais propor o uso de medicação que otimize a perda de peso e facilite as mudanças comportamentais. Normalmente solicita-se uma avaliação nutricional que pode ser feito por uma nutricionista. Também podem fazer parte da equipe um fisioterapeuta, um Educador Físico e um psicólogo. O objetivo é a conscientização da sua relação com a comida e o que ela representa na vida do paciente, da necessidade de trocar o sedentarismo e a má alimentação por hábitos de vida mais saudáveis que contemplem atividade física e uma dieta balanceada.

Nos casos em que ocorre falha do tratamento clinico da obesidade e o mesmo se mostra ineficaz, a cirurgia deve ser considerada. O método é conhecido popularmente como “redução de estômago”, mas vai muito mais além, pois leva a diversas mudanças nos hormônios reguladores do nosso metabolismo, da fome, saciedade, alterações na absorção de nutrientes e vitaminas, e até a mudanças no funcionamento do intestino. Existem algumas técnicas de cirurgia aprovadas pelo CFM (Conselho federal de medicina), cabendo ao médico apresentá-los ao paciente e recomendar o mais apropriado e seguro para cada caso.

Indicações de cirurgia:

– Pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40 Kg/m2;

– Pacientes com IMC maior que 35 Kg/m2 e comorbidades (doenças agravadas pela obesidade e que melhoram quando a mesma é tratada de forma eficaz) que ameacem a vida, tais como: diabetes, apnéia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, esteatose hepática, doença arterial coronariana, infarto do miocárdio (IAM), angina, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), acidente vascular cerebral, hipertensão e arritmias, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, cálculos (“pedras) na vesícula, cardiomiopatia dilatada, cor pulmonale e síndrome da hipoventilação, asma grave não controlada, osteoartroses, hérnias discais, pancreatites agudas de repetição, incontinência urinária de esforço na mulher, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, varizes nas pernas e hemorróidas, estigmatização social e depressão.

– Idade: maiores de 18 anos. Idosos e jovens entre 16 e 18 anos podem ser operados, mas exigem precauções especiais e o custo/benefício deve ser muito bem analisado;

– Falha do tratamento clínico prévio;

– Ausência de drogas ilícitas ou alcoolismo;

Tipos de Cirurgia

O maior benefício da cirurgia bariátrica e metabólica, além da perda de peso é a remissão das doenças associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão (entre outras), diminuição do risco de mortalidade, aumento da longevidade e melhoria na qualidade de vida.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias, da videolaparoscopia e da associação de novas drogas anestésicas os riscos hoje de uma cirurgia bariátrica são menores que uma cesariana, menores que um parto normal e menores que uma histerectomia comparativamente falando.

Entretanto, apesar de baixos, riscos existem em qualquer procedimento cirúrgico e por essa razão, deve ser feita em hospital com estrutura adequada e por médicos habilitados e com experiência comprovada. Por isso orientamos aos pacientes que se informem antes sobre a experiência do profissional escolhido.

Bypass Gástrico em Y-de-Roux

É a técnica bariátrica mais praticada no Brasil, correspondendo a 75% das cirurgias realizadas, devido a sua segurança e, principalmente, sua eficácia. O paciente submetido à cirurgia perde de 70% a 80% do excesso de peso inicial. Nesse procedimento misto, é feito o grampeamento de parte do estômago, que reduz o espaço para o alimento, e um desvio do intestino delgado inicial, que promove o aumento de hormônios que dão saciedade e diminuem a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial.

Gastrectomia Vertical (Sleeve)

Neste procedimento o estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros (ml), retirando a maior parte do estômago. Essa intervenção também provoca uma boa perda de peso, comparável à do bypass gástrico e maior que a proporcionada pela banda gástrica ajustável (técnica atualmente muito pouco realizada). É um procedimento que já e feito há mais de 20 anos, tem boa eficácia sobre o controle da hipertensão e de doenças dos lipídeos (colesterol e triglicérides). Atualmente vem crescendo muito o número de cirurgiões que acreditam nos resultados desta técnica, inclusive para controle do diabetes. Estima-se que em pouco tempo será a cirurgia mais feita no Brasil e no mundo.

Pós-operatório

No pós-operatório, recomenda-se ao paciente atividade física e complemento vitamínico (para a vida toda). Embora muito raramente, a cirurgia pode gerar complicações, como infecções, tromboembolismo (entupimento de vasos sanguíneos), deiscências (separações) de suturas, fístulas (desprendimento de grampos), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia. Além disso, sintomas gastrointestinais podem aparecer após as refeições. Os pacientes predispostos a esses efeitos colaterais devem observar certos cuidados, como reduzir o consumo de carboidratos e evitar a ingestão de líquidos durante as refeições.

Indicação de CIRURGIA METABÓLICA

– Tratamento de pacientes portadores de DIABETES MELLITUS TIPO 2* (com menos de 10 anos de história da doença), com IMC entre 30 Kg/m2 E 34,9 Kg/m2, sem resposta ao tratamento clínico convencional**, como técnica não experimental de alto risco e complexidade.

Indicação:

* Idade mínima de 30 anos e máxima de 70 anos;

** Insucesso do tratamento clínico é caracterizado quando o paciente não obtiver controle metabólico após acompanhamento regular com endocrinologista por no mínimo dois anos, mesmo tendo realizado mudanças no estilo de vida, dieta e exercícios físicos, além do tratamento clínico com medicamentos antidiabéticos orais e/ou injetáveis. Este insucesso deve ser confirmado obrigatoriamente por 2 médicos endocrinologistas.

As técnicas que podem ser realizadas para a cirurgia metabólica são o BYPASS GÁSTRICO EM Y-DE-ROUX, essa é a 1a escolha para o tratamento de pacientes com Diabetes tipo 2 não controlado clinicamente, com IMC entre 30 Kg/m2 e 34,9 Kg/m2), e a GASTRECTOMIA VERTICAL (SLEEVE), que é a alternativa caso haja alguma contra-indicação ou desvantagem do bypassa gástrico. Nenhuma outra técnica cirúrgica é reconhecida para o tratamento destes pacientes.

Contra-indicações da Cirurgia Bariátrica:

– Limitação intelectual significativa.

– Pacientes sem suporte familiar adequado.

– Quadro de transtorno psiquiátrico não controlado, incluindo uso continuo de álcool ou drogas ilícitas (No entanto, quadros psiquiátricos graves, alcoólatras e adictos sob controle não são contra indicativos à cirurgia).

– Doenças genéticas.

Especialista em Cirurgia geral, de Emergência e Trauma, Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia, Hérnias e Cirurgia de Parede Abdominal e Videolaparoscopia

One Comments

  1. 7 de setembro de 2022 at 06:23 am

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